A transição do Brasil para os veículos elétricos (VEs) pode mais que dobrar a criação de empregos no setor automotivo até 2050. É o que mostra um estudo do Conselho Internacional de Transporte Limpo (ICCT), com pesquisadores da USP e Unicamp. Segundo o levantamento, a adoção acelerada dos VEs tem potencial para gerar 116% mais empregos do que a manutenção do modelo baseado em veículos a combustão.O estudo compara dois cenários: um conservador, em que os veículos a combustão continuam dominando, e outro de eletrificação ampla, com crescimento da produção nacional de VEs e baterias. Neste último, há maior geração de renda via salários e expansão de setores como manufatura elétrica, serviços e máquinas. Porém, persistem desafios estruturais.A produção de baterias, que responde por até 37% do custo dos VEs, ainda depende majoritariamente de importações. Nacionalizar essa cadeia produtiva acaba essencial para ampliar os benefícios econômicos. O estudo também alerta para a concentração de empregos em setores tradicionalmente masculinos – sem políticas inclusivas, a desigualdade de gênero pode se agravar.Com o programa MOVER e novos investimentos previstos a partir de 2025, o Brasil dá os primeiros passos. No entanto, segue atrás de vizinhos como Chile, Colômbia e México, que já estabeleceram metas claras para veículos de emissão zero. A falta de ambição, no entanto, pode comprometer a competitividade internacional da indústria brasileira e sua participação no mercado global.Para garantir os ganhos econômicos, sociais e ambientais da eletrificação, o estudo recomenda políticas públicas robustas, incentivos à produção nacional, apoio à exportação e programas de capacitação para mulheres e grupos sub-representados.A mensagem é clara: eletrificar a frota brasileira pode impulsionar a economia e reduzir emissões, mas exige planejamento, inclusão e visão de longo prazo.